quarta-feira, 10 de abril de 2013

CSI real: As Fazendas de corpos (parte I)

Em fazendas de corpos, os cadáveres são posicionados
em determinados locais para que possam se decompor. 
Estudantes de antropologia forense estudam como o 
ambiente afeta os corpos e seus índices de 
de composição

 A primeira fazenda de corpos (oficialmente conhecida como Centro de Antropologia Forense da Universidade doTennessee foi inaugurada pelo Dr. William Bass em 1971. Bass reconheceu a necessidade de pesquisar a decomposição humana depois que a polícia, repetidamente, pediu sua ajuda para analisar corpos em investigações criminais. O que começou como uma pequena área com apenas um corpo evoluiu para um complexo de 12.000 metros quadrados com os restos mortais de 40 pessoas. A instalação ficou conhecida (e ganhou seu apelido) depois de ter inspirado o romance de Patricia Cornwell de 1995, "The Body Farm" (A fazenda de corpos). 




Quando um corpo é descoberto, um antropólogo forense é intimado ao local do crime para ajudar a encontrar e reunir restos mortais. Não é tão simples quanto parece. Pode haver dois corpos juntos numa cova rasa ou o corpo pode ter sido encontrado entre ossos de animais deixados por caçadores. O profissional separa os ossos dos outros materiais, os leva ao laboratório e os limpa para depois examiná-los. A análise é complicada por uma série de motivos. Por exemplo, um trauma no osso pode revelar luta com o assassino ou pode ser apenas resultado de um acidente na infância. O exame forense pode ajudar a determinar qual é o caso. Antropólogos forenses também prestam depoimento na justiça sobre suas descobertas - reafirmando sua opinião sobre a identidade ou perfil do indivíduo e a presença de traumas nos ossos ou esqueleto. Quando cientistas forenses aparecem em seriados de crimes na TV, o papel que desempenham normalmente é impreciso e exagerado. O antropólogo forense estuda apenas os ossos e os restos em decomposição de uma pessoa - e não o resquício misterioso de sangue no punho, o chiclete mastigado na boca da vítima ou o padrão peculiar de manchas de sangue na parede atrás do corpo. Algumas tarefas não executadas por eles incluem:
  • coleta e análise de DNA;
  • autópsia;
  • análise de padrão de mancha de sangue;
  • busca por fios de cabelo, fibras ou outras provas do gênero;
  • estudo de balística ou outras provas relacionadas a armas

Mesmo que os antropólogos forenses não façam tudo o que fazem na TV, eles têm um trabalho específico. Para analisar corpos corretamente, devem aprender sobre decomposição. Ter experiência imediata ajuda - e é isto que justifica a fazenda de corpos. Elas são como laboratórios práticos onde estudantes aprendem os efeitos ambientais sobre o corpo, assim como observam o processo de decomposição de perto.


Os antropologistas forenses reconstroem e identificam corpos desconhecidos para ajudar a solucionar crimes por meio da análise dos ossos humanos

Em fevereiro de 2008, depois de meses de busca, investigadores encontraram o corpo de John Bryant - um homem de 80 anos que estava desaparecido. Um suspeito já estava na prisão, mas definir quando Bryant morreu era um dado crucial para o caso. A resposta poderia ser encontrada a partir de dados localizados em um dos centros de pesquisa mais horríveis: a fazenda de corpos

Os antropólogos forenses podem datar restos mortais observando a atividade dos insetos sobre o corpo em decomposição, mas se já se descompôs até o esqueleto, o trabalho fica bem mais difícil. É aí que a pesquisa da fazenda de corpos começa. Elas têm ensinado os cientistas a estudar o terreno em torno dos restos mortais em busca de provas - a acidez no solo pode indicar há quanto tempo o corpo tem liberado fluidos na terra. Além disto, os especialistas passaram a prestar atenção aos efeitos do tempo e do ambiente. Os cientistas consideram o efeito do processo de putrefação sob o sol quente e árido e também como um corpo em decomposição pode ser dilacerado por animais em busca de alimento. Se os ossos maiores estiverem espalhados, é seguro assumir que o corpo está no local por um período longo (os animais carregam os ossos pequenos primeiro).

A Western Carolina é uma das três únicas universidades nos Estados Unidos que defende o mérito de permitir a decomposição de corpos humanos naquilo que seria somente um adorável campus universitário. Além da fazenda de corpos na WCU, há também fazendas na Universidade do Tennessee - Knoxville e na Universidade do Texas - San Marcos. Neste artigo, você vai saber tudo sobre fazendas de corpos e seu papel na educação e investigação. 

O que acontece em uma fazenda corpos?

Quando o Dr. Bass iniciou os trabalhos utilizava corpos de indigentes das unidades médicas de pesquisa. Posteriormente, as pessoas passaram a doar seus corpos ao centro para facilitar os estudos forenses.

Não há um padrão comum de diretrizes a serem seguidas por esses centros de estudos, além de segurança, proteção e privacidade. Até mesmo a dimensão das instalações variam. A fazenda de corpos da Universidadea Western Carolina tem cerca de 300 metros quadrados. Foi construída para manter 6 a 10 corpos por vez, enquanto a da Universidade do Tennessee possui 40 corpos em seus 12.000 metros quadrados. A fazenda de corpos no Texas é maior: a instalação na Universidade do Texas San Marcos possui cerca de 20.000 metros quadrados.
Cada instalação possui um foco diferenciado. A fazenda de corpos do Tennessee desenvolve um amplo estudo sobre a decomposição do corpo sob todas as condições - enterrado, a céu aberto, sob a água e até no porta-malas de carros. Já em Western Carolina se enfatiza o estudo da decomposição na região montanhosa da Carolina do Norte e do Sul. A fazenda de corpos do Texas também oferece dados específicos da região. Antropólogos forenses de estados como Novo México aguardam dados do Texas para que possam estudar amplamente a decomposição em climas desérticos.
Geralmente, quando o centro aceita um corpo, o mesmo é colocado em um refrigerador (similar ao encontrado em necrotério). O cadáver é identificado com um número e colocado em uma localização específica no terreno. A localização de cada corpo é cuidadosamente mapeada. Os estudantes aprendem a manter uma seqüência de evidências quando trabalham com pessoas reais. Em uma investigação criminal, é fundamental que quem vai lidar com o corpo registre a manipulação do mesmo. Desta maneira, nenhuma questão legal poderá ser levantada quanto à integridade das provas ou possíveis disparidades sob sua custódia.
Os corpos se decompõe durante muito tempo. Depois os estudantes praticam exercícios relacionados à localização, coleta e remoção de restos mortais da área. Os restos são levados ao laboratório e depois são analisados. Quando a análise é finalizada, o esqueleto pode ser devolvido à família do falecido para o funeral, caso este seja o pedido da família. Caso contrário, é provável que permaneça na coleção de esqueletos do departamento. A Universidade de T-Knoxville ostenta uma coleção de restos mortais de mais de 700 pessoas.

As fazendas de corpos podem proteger ou não os corpos em uma espécie de gaiola. Esta medida evita que os coiotes no Texas dilacerem as partes do cadáver. No centro da Carolina Ocidental, cercas de proteção são suficientes.



o post ficou comprido, vou parar aqui e sexta feira sai a segunda parte, abordando como a fazenda ajuda na solução de crimes.