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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Tendências Suícidas

Tendência suicida

Você vai demorar trinta minutos para ler essa reportagem. A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida, segundo dados da OMS

Os comportamentos suicidas normalmente ocorrem em pessoas com transtorno bipolar, depressão, dependência de drogas e também esquizofrenia.

Estas pessoas estão tentando fugir de alguma situação da vida que parece impossível de se enfrentar. Normalmente elas
não sabem onde encontrar ajuda e também não acreditam em soluções.



Uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para órgão o problema é grave, já que este dado é superior ao número combinado das vítimas de guerra e assassinatos. A Delegacia de Homicídios (DIH), com sede em Goiânia, registrou, em 2011, 81 casos de suicídio, em 2012 esse número chegou a 52, só neste ano, 10 pessoas já se mataram segundo os registros.

Mas o que leva uma pessoa a cometer um ato suicida? A perda de um ente querido, problemas financeiros, ou uma angústia no peito que parece não ter remédio para aquele que sofre do mal da depressão? Para o psicólogo e presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Wadson Arantes Gama, a tendência suicida pode ser explicada, mas é preciso tratar o tema com cuidado, pois existem diversos fatores que podem justificar o ato suicida.

De acordo com Wadson, existem vários perfis de pessoas que possuem tendência de tirar a própria vida. Ele explica que fatores biológicos, genéticos, psicológicos e sociológicos estão relacionados com o desejo de se matar. O fator biológico interfere nas pessoas fazendo com que alguns indivíduos possuam certa vulnerabilidade para suicídio. Estas, possuem baixos níveis de serotonina (neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor e também funciona como “combustível” do prazer no corpo humano) e dopamina (outro neurotransmissor que também produz sensações de satisfação e prazer).

Outro fator é genético. Segundo o psicólogo, existem estudos genealógicos que confirmam que a propensão para o suicídio pode decorrer de uma transmissão genética. “Existem sim a possibilidade de a genética ter influência no desejo que alguém sente de tirar a própria vida. É importante ressaltar que genética não pode ser confundida com hereditariedade”, alerta o psicólogo.

O perfil psicológico do indivíduo também aponta para possíveis tendências suicidas. Dessa forma, pode-se explicar que algumas se matam devido a uma sensação de abandono em relação ao mundo que os envolve. Pessoas que possuem perfil suicida também podem ter passado por dificuldades durante a vida e não conseguiram lidar com estes problemas.

“É possível notar que a pessoa possui tendência suicida quando ela não consegue lidar com fatos ruins que aconteceram ao longo de sua vida. A morte de alguém muito querido, a perda de um emprego. Isso leva a pessoa a apresentar um perfil psicológico de alguém depressivo que pode praticar um homicídio contra si mesmo”, afirma Wadson.

A questão sociológica também justifica, em parte, casos de suicídio. “O meio social que vivemos influência na nossa personalidade”, diz o psicólogo. Por este motivo, vemos que as taxas de suicídio diferem em número de região para região.

E por mais paradoxal que possa parecer, países mais desenvolvidos apresentam número maior de pessoas que tiraram a própria vida. Segundo a OMS, as taxas de suicídio mais elevadas são a dos países do leste da Europa, como Lituânia ou Rússia, enquanto as mais baixas se situam na América Central e do Sul, em países como Peru, México, Brasil ou Colômbia. Estados Unidos, Europa ocidental e Ásia estão na metade da escala. Não há estatísticas sobre o tema em muitos países africanos e do sudeste asiático.

Fatores de risco

Segundo Wadson, é possível notar que uma pessoa pode cometer um atentado contra a própria vida por meio de sinais apresentados por estes indivíduos. Ele explica que quem comete ou tenta cometer suicídio, na maioria das vezes, demostra sinais de depressão.

Segundo o psicólogo, os sintomas da depressão são diversos e podem passar despercebidos, ou não, dependendo de cada indivíduo. Entre os sinais, estão insônia, desleixo com a aparência, falta de vontade de trabalhar, ter relações sexuais, comer e até tomar banho.

“É claro que não podemos generalizar. Nem sempre insônia, falta de apetite sexual significa depressão. Esta doença é gerada por uma série de fatores. Mas é importante ficar atento os sintomas citados para diagnosticar o problema”, pontua Wadson.

Tristeza X Depressão

O psicólogo informa que é comum que as pessoas confundam tristeza com depressão. Ele diz que muitos pacientes procuram seu consultório acreditando estar com depressão, no entanto, eles estã
o apenas tristes. “Podemos definir a depressão como um sentimento de incapacidade de sentir prazer, de estar feliz. O que é diferente da tristeza, que aparece por alguma razão explícita e dura determinado tempo”. (confira o box com as diferenças entre tristeza e depressão).

No entanto, o psicólogo alerta que uma tristeza profunda pode se tornar depressão. “Como eu expliquei, existem pessoas que possuem tendência a depressão e suicídio. Essas pessoas podem ficar tristes por algum fato ruim que aconteceu na vida dela e não conseguirem se recuperar. Desta forma, elas acabam desenvolvendo depressão” esclarece Arantes.

Prevenção ao suicídio

A melhor forma de evitar que alguém tire a própria vida é tratando a depressão. Segundo Wadson, o tratamento se da por meio de consultas tanto com o psicólogo quanto com psiquiatra. “O paciente que tem depressão precisa tanto de acompanhamento com psicólogo como com um médico. Com uso de medicamentos e terapia é possível que o paciente se recupere e perceba que sua vida tem valor. É preciso que ele entenda o poder que ele tem e que ele é capaz de lidar com as dificuldades da vida”, relata.

Assim como o psicólogo a OMS também acredita que as taxas de suicídio podem ser reduzidas por meio de tratamento contra a depressão. Em setembro do ano passado, a organização pediu que mais ações sejam desenvolvidas nos Estados para evitar que as pessoas continuem tirando a própria vida. Por meio de um documento publicado no portal da instituição, foi feito um apelo aos governos para que políticas e estratégias nacionais de prevenção ao suicídio sejam desenvolvidas. A organização ainda destacou que é preciso ter consciência de que o suicídio é a principal causa evitável de morte prematura. “A nível local, resultados de pesquisa precisam ser traduzidos em programas de prevenção e atividades nas comunidades”, pontuou a OMS.

O Ministério da Saúde o também demostrou preocupação com o fato, já, estima-se que 9% da população brasileira apresenta sintomas de depressão. Desta forma, o órgão também publicou uma portaria que instituiu as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a serem implantadas em todos os estados e no Distrito Federal. A ideia é que cada ente federado desenvolva estratégias de promoção de qualidade de vida, de proteção e  recuperação da saúde e de prevenção de danos, além de promover a sensibilização de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido.

No Estado de Goiás, ainda não existem políticas públicas voltadas exclusivamente para a prevenção de suicídio. Mas os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) também atendem cidadãos que possuem tendências suicidas. Assim, quem precisa de ajuda podem buscar auxiclior de forma gratuita e diária. Os depressivos e seus familiares encontram no Caps o acompanhamento de enfermeiros, psiquiatras e agentes para auxiliar no tratamento.

Os agentes dos CAPs também realizam visitas à domicilio. Durante esse processo, os profissionais trabalham para identificar pessoas que apresentem apresenta sinais de depressão ou tendências suicidas. Caso o agente percebe que o indivíduo precisa de ajuda, ele tenta convence-lo a procurar auxílio nos centros.

Tendências suicidas podem ser genéticas

Quando alguém comete suicídio, é comum perguntar quais foram os motivos que levaram uma pessoa a tirar a própria vida. De acordo com uma estudo publicado no jornal especializado Archives of General Psychiatry, os cientistas já podem responder a uma parte dessa pergunta - a tendência suicida poderia ser deteminada pelo DNA.

Durante o estudo, pesquisadores da Alemanha e dos Estados Unidos investigaram as variações genéticas de 394 pacientes diagnosticados com depressão, incluindo 113 que tentaram suicídio. O DNA desses pacientes foi comparado com os de outros 366 pacientes saudáveis. A mesma equipe de pesquisadores coordenou ainda um estudo complementar, envolvendo 1.600 alemães e afro-americanos – dentre eles, 270 tentaram o suicídio.

Após a análise do material genético, os cientistas descobriram que uma mudança em cinco dos nucleotídeos - as letras do DNA - eram significativamente mais comuns entre os indivíduos que já tentaram o suicídio. Esses nucleotídeos em particular afetam dois genes que estão diretamente associados à formação e ao crescimento do sistema nervoso e aí pode estar a chave da tendência suicida, dizem os pesquisadores. Aqueles indivíduos que apresentavam três das mais importantes mutações detectadas eram 4,5 mais propensos a tentar o suicídio do que aqueles que não apresentavam essas mutações.

De acordo com os pesquisadores, os resultados encontrados sugerem que o suicídio está mais ligado a fatores hereditários e genéticos do que a distúrbios psiquiátricos. "Estudos com irmãos gêmeos e famílias apontam que o suicídio e tentativas de suicídio são geneticamente herdados. Eles aparentam ser independentes de distúrbios psiquiátricos ocultos", afirmaram os coordenadores da pesquisa ao jornal Archives of General Psychiatry. 

Fontes: Arquivo DM