Os adeptos do Ramo Davidiano, liderado desde 1984 por David Koresh, um apóstata da Igreja Adventista do Sétimo Dia – assim como o imigrante búlgaro Victor Houteff, fundador da seita em 1943 – que se auto-intitulava o “Novo Cristo” e misturava sexo e revolução política, estocavam centenas de armas e quatro toneladas de munição – grande parte adquirida ilegalmente – no Rancho do Apocalipse, no Monte Carmel, em Waco, Texas, sudoeste dos Estados Unidos, na expectativa de que seriam atacados pelas “forças do demônio”. Foi isso que serviu de justificativa para uma ação do governo contra a seita, a despeito de o FBI já ter recebido denúncias de que Koresh proibia as crianças de freqüentarem a escola e as submetia a abusos físicos e sexuais.
Em 28 de fevereiro de 1993, cerca de 100 agentes federais da Alcohol, Tobacco and Firearms [Departamento responsável pelo controle das armas de fogo, fumo e bebidas alcoólicas, ATF], munidos de mandados judiciais de busca e apreensão, tentaram entrar na fazenda, mas foram rechaçados à bala. Quatro agentes morreram. No dia seguinte, começou o cerco. Em 02 de março, Koresh prometeu que sairia se o FBI transmitisse a mensagem religiosa de 58 minutos que ele gravara. O FBI concordou, mas Koresh voltou atrás porque “Deus disse para ele esperar”. Em 20 de março, Koresh exigiu que, uma vez preso, lhe permitissem pregar para os membros da seita de dentro de sua cela. O FBI aquiesceu novamente e desta vez redigiu um acordo por escrito. Entretanto, quando Koresh leu a carta, ele a amassou e a jogou em um canto.
Atentado terrorista — No início de abril, Koresh anunciou que se renderia logo após terem celebrado a Páscoa. Uma vez mais Koresh não cumpriu sua palavra. Alguns dias antes da invasão, Koresh concordou em se entregar contanto que o deixassem terminar sua “interpretação” dos Sete Selos do Apocalipse. Quando o agente Schneider, o principal negociador, informou a seus superiores que Koresh só estava ganhando tempo e que não sairia sob quaisquer condições, o FBI decidiu pressionar a Secretária da Justiça Janet Reno para autorizar um ataque total não letal.
Waco é uma cidade de cerca de 200.000 habitantes, localizada 155 km ao sul de Dallas, no centro do estado do Texas, EUA. Conhecida como o "coração do Texas", é uma das maiores cidades do estado, tendo o turismo como uma das principais atividades econômicas. Em 1934 um grupo de Adventistas do Sétimo Dia fundou uma comunidade conhecida como Monte Carmel. A comunidade possuía um centro de estudos teológicos, conhecido como Associação Adventista Davidiana de Sétimo Dia. Seu fundador, Victor Houteff, um imigrante búlgaro, era reverenciado dentro da comunidade como um profeta, e anunciava a volta de Jesus Cristo. A comunidade Davidiana levava uma vida autônoma, mas sem conflitos com o governo de Waco ou seus habitantes. Em 1983, uma facção denominada "Ramo Davidiano Águas Vivas" assumiu o controle de Monte Carmel. Dentre seus componentes, havia Vernon Wayne Howell, nascido em 1959.
Howell, conhecido mais tarde como David Koresh, desenvolveu uma série de profecias nas quais seus seguidores entrariam em conflito com forças que identificava ser o governo dos Estados Unidos. Segundo Koresh, tal conflito ocorreria no ano de 1995. Utilizando-se deste argumento, começou a estocar uma quantidade apreciável de armas em Monte Carmel: fuzis AK-47, granadas, lançadores de granadas, rifles e metralhadoras, além de munição, máscaras contra gases e rações militares. Tal arsenal estocado chamou a atenção do ATF, órgão do governo americano que regula a comercialização de fumo, álcool e venda e posse de armas de fogo. Agentes do ATF iniciaram uma minuciosa investigação.
Koresh já havia se envolvido, em 1987, em uma briga e subseqüente tiroteio com George Roden, líder da seita na época. Além disso, possuía acusações de estupro e práticas sexuais com menores da comunidade. Em 28 de fevereiro de 1993, agentes do ATF dão ordem de prisão a Koresh, com a acusação de posse ilegal de armas. Os agentes são recebidos a bala; 4 agentes são mortos, e pelo menos 16 são feridos. Seis seguidores do Ramo Davidiano são mortos. O caso assume gravidade inesperada; agentes do FBI são deslocados para o local.
Koresh recusa-se a se entregar, declarando que Deus o aconselhou a aguardar. Enquanto isso, faz uma série de sermões religiosos, onde anuncia o final dos tempos. O telefone de Koresh é cortado, e os seguidores da seita Davidiana ameaçam suicídio. As negociações ficam cada vez mais tensas. Vários dias se passam sem nenhum avanço. A luz é cortada várias vezes, e o frio é intenso. O FBI tenta perturbar o sono dos seguidores de Koresh, tocando música por toda a noite em volume alto. Alguns habitantes de Monte Carmel deixam o local. Mas Koresh resiste; segundo especialistas do FBI, Monte Carmel possuía provisões de alimentos para um ano.
Em 25 de março, quase um mês após o início do cerco, o FBI dá um ultimato: pelo menos 10 pessoas deverão deixar Monte Carmel, ou alguma atitude será tomada. Na noite seguinte, luzes fortes, música alta e helicópteros iniciam uma pressão mais intensa. Mas nenhum acordo se estabelece. Analisando cartas de Koresh, onde diz estar aguardando a "palavra do Senhor", especialistas do FBI concluem que ele deva ser psicótico, e que não tem intenção de se render. Um plano de utilização de gás lacrimejante começa a ser traçado.
Às 6 da manhã de 19 de abril de 1993, tanques do FBI começam a injetar gás lacrimogêneo dentro dos edifícios. Os davidianos começam a atirar pesadamente. Os tanques derrubam portas e paredes. Um incêndio se inicia em Monte Carmel, com causas até hoje desconhecidas; graças ao corte de energia, uma grande quantidade de lampiões de querosene estava sendo usada, o que pode ser a causa provável do incêndio. O saldo do cerco é extremamente trágico: 80 pessoas são mortas, incluindo Koresh, graças ao fogo ou a tiros disparados de dentro de Monte Carmel; alguns estudos levaram a tiros também vindos de cima, dos helicópteros.
Estudiosos observam que houve precipitação do FBI no envio de um verdadeiro exército a Monte Carmel; aquilo foi interpretado pelos davidianos como a chegada do juízo final, graças principalmente a revelações de Koresh. A tragédia de Waco está fartamente documentada na Internet. Declarações oficiais, depoimentos no Congresso, palavras de Koresh, fotos e até mesmo gravações de áudio das negociações entre os davidianos e o FBI estão disponíveis. Um painel amplo de opiniões e pontos de vista, que possibilitam uma visão ampla do processo e de seus desdobramentos.
Os cultos e seus líderes têm sido estudados por especialistas em comportamento, que têm traçado suas características gerais e alertado contra seus possíveis danos. Steve Hassan é psicólogo e autor de estudos sobre cultos e seitas que realizam algum tipo de controle mental sobre seus participantes. Para Hassan, esse tipo de culto visa basicamente a operar sobre a personalidade do indivíduo participante, de modo que ele se desligue de sua vida anterior e passe a ter novas crenças e valores. Segundo ele, são três os estágios do controle mental:
Descongelamento
O indivíduo é sobrecarregado ou privado de estímulos emocionais. Reduz-se seu sono e sua privacidade. Muda-se sua dieta. Uso intensivo da hipnose e da meditação. O indivíduo passa a questionar a própria identidade. Seu passado é redefinido com o implante de falsas memórias.
Mudança
Criação e imposição de uma nova identidade ao indivíduo, através de sessões de doutrinação. O indivíduo é recompensado ou punido, de acordo com seu comportamento. Utilização da repetição e da prece ritmada. Confissões.
Recongelamento
A nova identidade é reforçada. O indivíduo é separado da família, e encorajado a abdicar de suas posses materiais. Passa a ter novo nome, novas roupas, novo visual, nova "família".
Hassan escreve há duas décadas sobre os cultos e seitas "destrutivas", e conheceu de perto o fenômeno, pois foi membro da seita Moon. Para Hassan, a busca da espiritualidade e do enriquecimento interno devem motivar a escolha religiosa de um indivíduo, e este deverá, acima de tudo, manter o discernimento e ser o único responsável por suas próprias atitudes.
Fontes: Revista UFO