O Maníaco do Parque parte II: Vítimas e sua "fama"
Francisco de Assis Pereira
Francisco de Assis Pereira, 1967, matou durante nove meses e se tornou o assassino em série mais famoso do Brasil.
Simpático e com boa lábia era um excelente patinador, eu mesma cheguei a o ver andar de patins no Ibirapuera quando era criança, anos depois que me dei conta de que aquele rapaz que andava melhor do que todos, literalmente fazendo acrobacias em seu patins, na verdade era um lobo em pele de cordeiro, apenas observando e esperando como um animal que caça sua presa. Participava de campeonatos e de um grupo de patinação, algumas de suas vítimas foram abordadas por se interessar por suas manobras.
De janeiro a setembro de 1998, convidou garotas para posar em ensaios fotográficos. As vitimas eram levadas para áreas de mata atlântica do gigantesco Parque do Estado de São Paulo, na zona sul da capital paulista. Após espancar e violentar, estrangulava suas convidadas até a morte
O primeiro corpo foi encontrado em julho. No mesmo mês, mais seis foram encontrados, atraindo a atenção da imprensa. Vitimas que escaparam entraram em contato com a policia e ajudaram na elaboração de um retrato falado que levou a investigação a té a empresa de motoboys na qual Francisco trabalhava.
Após um interrogatório de 72 horas, Francisco confessou ter matado 10 mulheres. Ele afirmou que lutava constantemente contra seu instinto predador e que orava e rezava o terço para tentar conter seus impulsos. Ele dizia ter um "lado negro" e revelou que ficava excitado, malvado e carente ao relembrar de seus ataques. Os peritos fizeram um molde de sua arcada dentária para compara com mordidas encontradas no corpo de algumas vitimas, indicio de que os ataques estariam escalando para o canibalismo.
Levado a juri popular foi condenado a 147 anos de prisão. Na cadeia recebia cartas de admiradoras e até ficou casado, por pouco tempo, com uma delas: Uma senhora de 60 anos. No inicio do cumprimento de sua pena, na Casa de Custódia de Taubaté, foi jurado de morte pelo colega de prisão Pedrinho Matador.
Atualmente cumpre pena em Itaí, a 300 km de São Paulo, em uma penitenciaria exclusiva para criminosos sexuais.
Suas Vítimas
"Ele apertou meu pescoço.
Disse que era psicopata e já havia
enterrado muitas mulheres ali"
Sandra Aparecida de Oliveira,
19 anos, uma das mulheres
que dizem ter sido atacadas
no parque por Francisco
Elisângela Francisco da Silva tinha 21 anos. Paranaense, filha de uma família pobre de Londrina, vivia em São Paulo, com a tia Solange Barbosa, desde 1996. Por causa das dificuldades financeiras, abandonou a escola na 7ª série. Às 6 horas da tarde de 9 de maio, ela foi deixada por uma amiga no Shopping Center Eldorado, na Zona Oeste de São Paulo. Nunca mais foi vista. Seu corpo foi encontrado em 28 de julho, no Parque do Estado. Ela estava nua. O corpo já decomposto exigiu um árduo trabalho de identificação. O reconhecimento só aconteceu três dias depois. "Eu tinha esperança de que não fosse ela", diz a tia. Era. Elisângela era conhecida pela timidez excessiva. Diante do olhar mais detido de um desconhecido, sempre abaixava o rosto. Pertencia à Igreja Batista, mas recentemente freqüentava a igreja Deus É Amor. "Aceitei Jesus", justificava. Em casa, ajudava nos cuidados com a pequena Letícia, de 3 anos, filha de uma de suas primas. Desde a morte de Elisângela, a menina, vira e mexe, pergunta pela moça. Ao passar pelo shopping, Letícia aponta e chora: "Lisângela ficou aqui! Lisângela ficou aqui!" No dia de seu desaparecimento, Elisângela saiu de casa dizendo que voltaria dali a duas horas.
A grande ambição de Raquel Mota Rodrigues, de 23 anos, era ganhar dinheiro para ajudar a família, que vive em Gravataí, no Rio Grande do Sul. "Era uma moça muito ingênua", diz a prima Lígia Crescêncio, com quem Raquel morava desde o final de 1997. "Acreditava muito facilmente nas pessoas." Nos finais de semana, Raquel costumava freqüentar barzinhos com três amigas. Nunca chegou em casa depois da meia-noite. Por volta das 8 horas da noite de 9 de janeiro, ela saiu da loja de móveis onde trabalhava como vendedora, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. Ao desembarcar na Estação Jabaquara do metrô, já quase em casa, telefonou para a prima. Avisou que conhecera um rapaz e que aceitara posar de modelo para ele em Diadema, na Grande São Paulo. "Disse que era melhor ela não ir", lembra Lígia. Era muito arriscado sair com um desconhecido. "É, eu não vou", respondeu a garota. Raquel nunca mais apareceu. Seu corpo foi encontrado no matagal do Parque do Estado no dia 16 de janeiro. Poucos dias antes de morrer, Raquel estava extremamente feliz. Acabara de arrumar um novo emprego. Trabalharia numa loja de móveis maior, onde as comissões seriam mais polpudas.
Na quinta-feira passada, Selma Ferreira Queiroz completaria 18 anos. Moça simples, a mais nova de três irmãs, pretendia terminar os estudos (estava na 7ª série do 1º grau) e fazer faculdade de ciências contábeis ou computação. Os planos de Selma, contudo, foram interrompidos na tarde de 3 de julho. Entre sua casa, na cidade de Cotia, na Grande São Paulo, e o centro da capital paulista, onde trataria das formalidades referentes a sua demissão como balconista de uma rede de drogaria, ela desapareceu. Era uma sexta-feira. No dia seguinte, um homem telefonou para Sara, irmã de Selma. Informou que a moça havia sido seqüestrada. Pediu um resgate de 1.000 reais. Voltaria a ligar no final da tarde. Não ligou. Nesse mesmo dia, o corpo de Selma foi encontrado no Parque do Estado. Estava nua, com sinais de estupro e espancamento. Nos ombros, seios e interior das pernas, havia marcas de mordidas. No rosto, a feição da dor. Selma morreu estrangulada. O último sinal de vida da garota foi para o namorado. Às 3 da tarde de sexta, de um telefone público, ela avisou que não chegaria a tempo para assistir ao jogo do Brasil contra a Dinamarca com ele. Mas que estava a caminho de casa.
Aos 24 anos, Patrícia Gonçalves Marinho nunca revelara à família o sonho de ser modelo. Adorava, no entanto, posar para fotografias ao lado de parentes e amigos. Vendedora, era uma moça alegre, comunicativa. Fazia amizade com muita facilidade, em grande parte porque tinha uma confiança ingênua nas boas intenções de todo mundo, mesmo desconhecidos. No dia 17 de abril, ela saiu da casa da avó Josefa, com quem morava. Desapareceu. Seu corpo só foi descoberto em 28 de julho. Estava jogado numa área erma do Parque do Estado. Devido ao avançado estado de putrefação, a identificação de Patrícia só foi possível porque ao lado do corpo foram encontradas roupas e bijuterias da moça. Foi estuprada. Morreu por estrangulamento. Patrícia foi enterrada no Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, no último dia 5. Durante os serviços fúnebres, o clima entre parentes e amigos de Patrícia era de muita revolta. Alívio também — um dia antes, Francisco havia sido preso. "A simplicidade e ingenuidade de minha filha devem ter facilitado a abordagem do assassino", disse o pai da garota, o motorista particular João Severino Marinho.
As cartas
O famoso motoboy recebia várias cartas de admiradoras na cadeia, aqui vão alguns trechos:
"Eu não sei o que fazer para te distrair. Mas eu tenho uma ideia: primeiro quero dizer que te desejo todas as noites. É muito bom. Te acho gostoso, meu fogoso. Você está juntinho comigo, dentro do meu coração. Depois que chego em casa, queria você de corpo e alma, te amando. Te quero de qualquer jeito. Eu te amo do fundo do meu coração. Não perca a esperança, acredite em Deus, porque algum dia a gente vai se encontrar. Sei de seu comportamento doentio, por isso quero que fique calmo…"
"Por enquanto, nossos beijos são assim. Mas quero te beijar de verdade. Acho que tens saudades. Eu te amo, te amo, te amo etc., te desejo, te quero de corpo e alma. E me perdoe por tudo que estou sofrendo. Sabe Francis, eu não me conformo, e choro. E eu preciso ser forte (…)" - Rita, 27 anos
"Quero te dizer que estou morrendo de saudade, querendo você… Aih meu Deus como te desejo todas as noites. Eu durmo sozinha e querendo você aqui. Mas sei que é impossível. O certo é eu ir te ver. E como posso sentir. Que é meu?"
"Francisco, não deixe a tristeza tomar conta de você e acabar com o brilho do seu olhar. Acredite em Deus, você não está e nunca ficará sozinho. Jesus te ama, sua mãe e seu pai também e, principalmente, eu…" - Adriana, 22 anos
"Depois que tudo aconteceu, tentei dar um fim a minha vida, mais uma coisa super interessante teve que acontecer, eu pensei muito e tive esperanças, acredite o mundo dá voltas, quando a gente menos espera algo de bom sempre acontece". - Márcia, 18 anos – suposta ex
O jornalista e roteirista Gilmar Rodrigues publicou em 2009 o livro “Loucas de Amor – mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais” (Editora Ideias a Granel) onde tenta entender o porque o maníaco foi desejado por tantas mulheres. Ele ficou impressionado com as cerca de mil cartas de amor que o criminoso recebeu um mês após ter sido preso, em 1998. (Temos um post sobre este livro bem aqui)
Fontes; Mini Lua, Veja e Revista Mundo Estranho Edição 116-A