O nome Mary Flora Bell é uma espécie de sinônimo para crueldade infantil. É o caso mais famoso no mundo de criança com Transtorno de Personalidade Anti-Social. Tão famoso que uma Lei com o seu nome foi estabelecida na Inglaterra em 2003.
Nascida em um lar completamente desestruturado, era filha ilegítima de Beth Bell, uma prostituta de 17 anos de idade e mentalmente perturbada, além de ser ausente. Bell nunca chegou a conhecer seu pai. Mary e seus irmãos tratavam o padrasto, Billy Bell, como tio, pois assim a mãe dela receberia auxílio do governo.
Durante a infância, Mary era constantemente humilhada pela mãe devido ao fato de urinar na cama. Betty esfregava o rosto da filha na urina e pendurava o cochão molhado ao lado de fora para todos verem. Beth também levou a filha para uma agência de adoção, mas não conseguiu que a filha fosse adotada. Beth aplicava castigos severos; nas inúmeras tentativas de se livrar de Mary, entupiu a menina de remédios fazendo com que Mary fosse parar no hospital para fazer uma lavagem de estômago por mais de uma vez, a mãe de May fazia de tudo para o ambiente familiar ficasse perigoso o bastante para que ela se "acidentasse" deixando a pequena menina praticamente jogada pelos cantos sem supervisão ou cuidado algum, na maior parte do tempo Betty sentia um ódio inexplicável por May, que foi salva de ser assassina por sua mãe ainda bebe graças a parentes e vizinhos um pouco atentos. O mais perturbador para Mary era quando Beth permitia - forneceu o consentimento - que ela fosse abusada sexualmente, sendo forçada a participar dos jogos sexuais da sua mãe com os clientes diversas vezes. Isso tudo antes dela completar 5 anos de idade.
Com isso Mary desenvolveu seu passatempo favorito: maltratar animais. Além disso, ela adorava espancar suas bonequinhas e não chorava quando machucava. Aos 4 anos tentou matar um coleguinha enforcado e aos 5 presenciou sem nenhum tipo de emoção o atropelamento de um outro amiguinho. Depois que aprendeu a ler ficou incontrolável. Pichava paredes, incendiou a casa onde morava e torturava animais com maior frequência.
May Bell aos 16 anos |
Em 1973, Mary foi transferida para a prisão de Moor Court Open; essa mudança provocou efeitos negativos em seu comportamento. Em 1977, Mary Bell fugiu, perdeu a “virgindade” e foi recapturada alguns dias depois. Ela afirmou que tentou engravidar, e seu companheiro vendeu sua história para os tablóides.
Jornal noticia a liberdade de Mary |
O tempo passou e após muitos tratamentos e avaliações ela foi liberada em 14 de maio de 1980, com 23 anos. Teve alguns empregos que não foram bem sucedidos, em parte pela preocupação de que voltasse a transgredir, como quando arranjou emprego em uma creche. Mary então arrumou outro emprego como garçonete. Mais tarde casou e engravidou e devido ao seu passado teve que lutar pelo direito de criar sua filha, a qual nasceu em 1984. De certa forma os anos de tratamento surtiram efeito, Mary tornou-se uma mãe amorosa.
Ela tem sua nova identidade e endereço mantidos sob sigilo pela “Ordem Mary Bell”, uma Lei criada em 21 de maio de 2003 na Inglaterra que protege a identidade de qualquer criança envolvida em procedimentos legais. Apesar disso continuou tendo problemas com a vizinhança que sempre descobria sua verdadeira identidade. Mary não se livrou de seu passado macabro. Em 2007, depois da morte da sua mãe Mary Bell aceitou ser entrevistada, pela jornalista Gitta Sereny, resultando no livro “Gritos no Vazio” que contém sua biografia escrita pela mesma jornalista. Mas o governo inglês evita a comercialização da obra, tentando mantê-la apenas nas mãos de pessoas que estudam temas ligados à psicopatia.
Mary Bell, adulta e livre |
Acredita-se que o livro rendeu um bom dinheiro à Bell, e tanto esse dinheiro quanto o anonimato causaram controvérsias, principalmente entre os familiares de Martin e Brian.
As últimas notícias que se tem dela é que hoje ainda está casada, é avó e vive sob o medo da exposição.
O livro conta com riqueza de detalhes e cuidadosa análise, a vida de Mary Bell, quem, aos onze anos, matou dois garotinhos em uma pequena cidade do Norte da Inglaterra. A autora promove cuidadosa reconstituição dos fatos que levaram Mary Bell à prisão perpétua, de sua vida como detenta, de sua libertação em 1983 e de sua vida atual, aos 45 anos, casada e mãe de uma adolescente.
Além de revelar a tragédia que envolveu Mary Bell e as duas crianças, a autora busca, através da reflexão sobre a experiência de Mary quando criança (vítima de abuso sexual promovido pela própria mãe), analisar o sistema judicial em sua relação com crianças.
Sem render-se a dramatizações desnecessárias, Gitta Sereny apura fatos, entrevista envolvidos na história para, unindo dados colhidos por ela desde a época do julgamento e da condenação de Mary Bell, em 1968, à entrevista que ela própria concedeu à autora, fornecer um relato detalhado, comprovado por documentos, cartas, poemas e, ao mesmo tempo, rico em sentimentos. O livro, portanto, traz relatos de Mary feitos desde sua entrada na prisão até bilhetes que escreveu (reproduzidos em um apêndice) contando como ocorreram os crimes. A autora confronta psicólogos e psiquiatras com esses relatos, buscando explicações e entendimento sem, jamais, tentar justificar-lhe os atos, ainda que sem recriminá-los.
Para o leitor em geral, este é um relato de fantástica experiência de vida, com altos e baixos e nuances diversas que ligam o ser à sociedade. Para profissionais da Psiquiatria, Psicologia, Direito e Educação, trata-se de um ponto fundamental de discussão sobre a formação do sujeito psíquico e suas relações com a lei.
Como de costume, deixo um documentário para vocês
Fontes; Psicologia forence, Livro Gritos no Vazio.